Papa Francisco, o 266º Papa da Igreja Católica, morre aos 88 anos depois de 40 dias de internação. Ele era uma das figuras mais notáveis e admiradas da história recente da Igreja. Seu papado, iniciado em 13 de março de 2013, tem sido marcado por sua humildade, acessibilidade e uma busca constante pela reforma e renovação da Igreja Católica. Para entender a importância de sua figura, é necessário examinar sua trajetória desde a infância até sua liderança papal e as transformações que ele trouxe para o Vaticano e para o mundo.
Imagens: Internet
Infância e Formação: Uma Vida Simples
Jorge Mario Bergoglio, mais tarde conhecido como Papa Francisco, nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina. Ele foi o primeiro filho de uma família de imigrantes italianos. Seu pai, Mario Bergoglio, era um operário ferroviário, e sua mãe, Regina María Sívori, era dona de casa. Jorge cresceu em uma família de classe média baixa, o que o fez entender a importância da solidariedade e do serviço ao próximo desde cedo.
Desde a juventude, Bergoglio demonstrou uma grande fé e uma inclinação para a vida religiosa. Ele estudou no Colégio Salesiano, onde desenvolveu uma forte conexão com os ensinamentos da Igreja Católica. Aos 21 anos, após uma experiência espiritual profunda, decidiu entrar para a Companhia de Jesus (os jesuítas), uma das ordens religiosas mais influentes da Igreja Católica. Durante seus anos de formação como jesuíta, Bergoglio estudou filosofia e teologia na Argentina e em diversos países da América Latina.
Ascensão à Hierarquia Eclesiástica
A vida de Bergoglio como religioso foi marcada por sua simplicidade, dedicação à educação e forte compromisso com a justiça social. Em 1969, ele foi ordenado sacerdote e logo começou a ganhar destaque dentro da Companhia de Jesus devido ao seu compromisso com os mais pobres e sua visão pastoral centrada na necessidade de enfrentar as desigualdades sociais e econômicas.
Nos anos 1970, a Argentina viveu um período de intensa repressão política, com a ditadura militar impondo um regime de terror e censura. Durante esse tempo, Bergoglio foi um dos poucos líderes religiosos a se opor publicamente ao regime. Sua postura firme a favor dos direitos humanos e sua defesa dos oprimidos o colocaram em confronto com as autoridades, mas ele nunca se desviou de sua missão pastoral.
Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires. Ele rapidamente se destacou como um líder espiritual próximo ao povo, fazendo questão de morar em um modesto apartamento, em vez de residir no palácio episcopal. Seu estilo de vida simples, sua acessibilidade e sua dedicação às questões sociais marcaram sua atuação pastoral, ganhando a confiança da população.
Em 1998, Bergoglio foi nomeado Arcebispo de Buenos Aires, e em 2001, o Papa João Paulo II o fez cardeal. Nesse período, ele continuou a defender os pobres e marginalizados e a ser um crítico constante das políticas neoliberais e da globalização, que ele via como fatores que exacerbavam as desigualdades sociais.
Imagem: Papa Francisco Jovem
Papa Francisco: A Eleição e os Primeiros Anos de Papado
Quando o Papa Bento XVI anunciou sua renúncia em fevereiro de 2013, muitos não esperavam que o novo papa viesse da América Latina, uma região com uma crescente população católica. No entanto, em 13 de março de 2013, após cinco rodadas de votação, Bergoglio foi escolhido como o novo pontífice da Igreja Católica, tomando o nome de Papa Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade e pobreza.
Logo após sua eleição, o Papa Francisco fez questão de transmitir uma mensagem de simplicidade e serviço. Sua primeira aparição como papa foi notável, com ele optando por cumprimentar os fiéis na praça de São Pedro de maneira mais informal, sem as vestes tradicionais de um pontífice. Esse gesto simbolizava sua missão de liderar a Igreja com um espírito de renovação e proximidade com as pessoas comuns.
Nos primeiros meses de seu papado, Francisco chamou a atenção ao adotar uma série de reformas no Vaticano. Entre as principais ações, destacou-se a criação de uma comissão para combater a corrupção dentro da Cúria Romana (o governo do Vaticano) e sua ênfase na misericórdia e no acolhimento dos marginalizados. Sua visita à favela de Varginha, no Rio de Janeiro, durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, também simbolizou seu compromisso com os mais pobres.
Visão Pastoral e Desafios do Papado
Um dos maiores legados do Papa Francisco tem sido sua ênfase na “Igreja dos pobres”. Ele frequentemente critica o materialismo e a indiferença da sociedade moderna, chamando a Igreja a ser mais inclusiva e aberta, especialmente em relação aos desfavorecidos. Sua encíclica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), publicada em 2013, refletiu suas preocupações com as crescentes desigualdades sociais e econômicas, condenando o capitalismo desenfreado e a busca incessante pelo lucro em detrimento das necessidades humanas.
Francisco também provocou discussões com sua postura em relação a temas polêmicos como o casamento homossexual, a contracepção e o papel da mulher na Igreja. Embora ele tenha reiterado os ensinamentos tradicionais da Igreja, como a oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ele tem sido uma figura menos condenatória e mais acolhedora, enfatizando que a Igreja deve ser um “hospital de campanha” para os pecadores e os necessitados.
Seu papado também foi marcado por esforços para melhorar as relações com outras religiões. Em 2016, ele realizou uma histórica visita à Mesquita de Amã, na Jordânia, e teve encontros importantes com líderes muçulmanos, judeus e representantes de outras religiões, sempre com o intuito de promover o diálogo inter-religioso e a paz mundial.
Desafios Internos: Escândalos e Reformas
Embora Francisco tenha sido amplamente admirado por seu estilo pastoral e por suas mensagens de compaixão, seu papado também enfrentou desafios internos significativos. O Vaticano, como uma instituição antiga e complexa, foi palco de escândalos envolvendo casos de abuso sexual por parte de clérigos e corrupção financeira. Em resposta, o Papa Francisco adotou uma postura firme, criando um tribunal para julgar casos de abusos dentro da Igreja e trabalhando para uma maior transparência nas finanças vaticanas.
Sua luta contra a pedofilia e os abusos sexuais dentro da Igreja foi um dos maiores desafios de seu papado, levando-o a tomar medidas rigorosas, como a nomeação de uma comissão de especialistas para ajudar a lidar com as denúncias. Em 2018, o Papa Francisco convocou uma cúpula histórica de líderes da Igreja para discutir a crise global de abuso sexual, pedindo um compromisso sério de todos os bispos para erradicar este mal.
O Legado de Papa Francisco
A saúde do Papa Francisco, que havia sido razoavelmente estável por muitos anos, começou a deteriorar-se no final da década de 2020. Problemas com a articulação do joelho, que exigiram várias cirurgias, e o envelhecimento natural, começaram a afetar suas atividades diárias. No entanto, mesmo diante de desafios físicos, o Papa Francisco continuou seu trabalho incansável, viajando e promovendo seus valores de misericórdia, justiça e paz.
O falecimento do Papa Francisco ocorreu de maneira pacífica em 21 de Abril de 2025 após um longo período de declínio na saúde. Sua morte foi um momento de grande tristeza para milhões de fiéis em todo o mundo, mas também marcou o encerramento de um papado que se destacou pela busca incessante por uma Igreja mais justa, acessível e voltada para os necessitados.
O Papa Francisco não foi apenas um líder religioso; ele se tornou uma figura central no debate sobre os maiores desafios sociais, políticos e econômicos do mundo moderno. Sua ênfase na misericórdia, na justiça social, na defesa dos pobres e na reforma da Igreja Católica deixou um impacto indelével, e seu legado continua a ser debatido por estudiosos, teólogos e fiéis. Ao longo de sua vida e papado, Francisco foi um verdadeiro exemplo de como a fé pode transformar o mundo.