O tiro que matou o adolescente João Pedro, de 14 anos, durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), entrou pela altura do estômago, na barriga, e ficou alojado na escápula – osso no alto das costas, perto do ombro. As informações da perícia preliminar foram obtidas com exclusividade pelo RJ2 da TV Globo.
Três fuzis e uma pistola dos policiais envolvidos na ação estão apreendidas. Os trâmites para o confronto balístico, que pode dizer se tiro saiu de alguma dessas armas. Segundo os peritos, o disparo foi "alta energia cinética" – possivelmente um tiro de fuzil.
A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, que investiga o caso, informou que os policiais envolvidos na ação já foram ouvidos. Inclusive, o copiloto do helicóptero da Polícia Civil usado para resgatar João prestou depoimento.
Os investigados descartaram qualquer relação da família do menino com criminosos que fugiam dos policiais no momento em que João foi baleado.
"Segundo relato dos policiais civis que estavam no confronto, esses criminosos nada tinham a ver com essas pessoas que estavam no interior da residência, esses jovens. Foram criminosos que ingressaram na casa para fugir do cerco policial (...)", detalhou o delegado Allan Duarte.
Corregedoria apura ação
Além do inquérito aberto na Divisão de Homicídios, a Corregedoria da Polícia Civil também instaurou um procedimento para apurar a conduta dos policiais envolvidos na ação.
Um dos pontos que investigação tentará responder é em relação ao socorro de João Pedro. Os investigadores querem entender a escolha feita pela equipe do Saer (Serviço Aeropolicial) de levar o menino para ser socorrido no contêiner do Corpo de Bombeiros, que fica na sede da unidade, na Lagoa.
Apesar de ter uma estrutura montada para o primeiro atendimento, com dois médicos socorristas, o heliponto fica na Zona Sul do Rio de Janeiro. Mais perto dali, no Colubandê, em São Gonçalo, fica o Hospital Estadual Alberto Torres, uma das referências para atendimento de baleados no Rio de Janeiro.
Na DH, os policiais foram perguntados sobre essa opção de levar João Pedro para a Lagoa. Eles explicaram que acionaram o corpo médico dos bombeiros, que se prepararam para o pronto-atendimento e que “foi uma decisão de momento”.
O RJ2 entrou em contato com a Secretaria de Saúde para saber se houve algum contato com o hospital, na tarde de domingo, para saber da disponibilidade do heliponto para receber o menino baleado. A assessoria informou que a unidade tem heliponto, mas não houve contato algum da polícia pedindo para usar o heliponto e atender o menino na unidade.
Casa tem 70 buracos de balas
Líderes comunitários e vizinhos que estiveram na casa onde João foi atingido contaram pelo menos 70 buracos de tiros. Encurralados, jovens que estavam no imóvel se jogaram no chão para se proteger, mas o menino acabou atingido na barriga.
Um dos jovens que estava na casa com João Pedro disse na terça-feira (19) que eles estavam brincando quando começou o tiroteio. Segundo ele, o grupo jogava sinuca quando ouviram um helicóptero voando em volta da casa.
"Aí, eles começaram a dar tiro em direção ao morro. A gente entrou correndo pra dentro de casa e ficou lá. Aí, todo mundo deitou no chão. Aí, depois, o primo de Duda viu, Matheus viu os policiais entrando e se agachando ali no deck da piscina. A gente foi, deitou no chão, levantou a mão. Matheus começou a gritar que só tinha criança", detalhou o jovem.
Família acusa policiais de chegarem atirando
João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, estudante, morreu na segunda-feira (18) durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do RJ. Familiares e testemunhas contaram que policiais chegaram atirando na casa onde João e amigos estavam, na Praia da Luz, em Itaoca.
Parentes passaram a noite procurando o adolescente em hospitais e só acharam o corpo 17 horas depois, no Instituto Médico-Legal do Tribobó.
A operação conjunta buscava prender o traficante Ricardo Severo, conhecido como Faustão. No fim, ninguém foi preso. Segundo os agentes, bandidos reagiram com tiros e granadas.