Um ano após a polêmica em torno da hashtag #OscarsSoWhite (#OscarMuitoBranco, em tradução livre), quando a cerimônia mais importante do cinema mundial foi muito criticada por ter apenas atores, atrizes, diretores e roteiristas brancos indicados, o Oscar 2017 parece apontar para um novo rumo em relação à diversidade racial.
Entre os indicados a Melhor Filme surge "Cercas", estrelado por Denzel Washington e Viola Davis, ambos negros. Denzel, que também dirige o longa, está indicado a Melhor Ator, enquanto Viola foi contemplada na lista de Melhor Atriz Coadjuvante.
"Estrelas Além do Tempo", também indicado a Melhor Filme, tem em seu elenco um time de atrizes de primeira na história de um time de mulheres negras convocado pela NASA para ajudar os EUA na corrida espacial contra a URSS. Uma delas, Octavia Spencer, está indicada a Melhor Atriz Coadjuvante. Em 2012, ela levou a estatueta nesta categoria pelo drama "Histórias Cruzadas".
"Moonlight: Sob a Luz do Luar", também indicado a Melhor Filme, mostra o crescimento de um jovem na periferia de Miami, desbravando seus obstáculos em relação à raça e sua sexualidade. Negro, o diretor Berry Jenkins foi indicado em sua categoria. Mahershala Ali e Naomi Harris também estão indicados, respectivamente a Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante. Ambos também são negros.
Filha de mãe irlandesa e pai etíope, Ruth Negga vem sendo bastante elogiada por sua performance em "Loving", filme baseado em uma história verídica sobre uma decisão da Suprema Corte americana, na década de 60, proibindo casamentos interraciais. Ela está entre as indicadas a Melhor Atriz.
A edição 2017 ainda traz um ineditismo: Joi McMillon, por "Moonlight", se tornou a primeira mulher negra a receber uma indicação por Melhor Edição.
Boicote abalou edição do Oscar em 2016
Pelo segundo ano consecutivo, a Academia havia deixado atores, atrizes e diretores negros de fora da lista final de indicados. Tal postura gerou uma manifestação virtual com a hashtag #OscarsSoWhite e um boicote anunciado por diversas personalidades de Hollywood.
Vencedor de duas estatuetas, George Clooney, à época, disse à revista "Variety": "A Academia está indo em uma direção errada. Há dez anos fazíamos melhor". Em uma carta aberta, o cineasta Spike Lee anunciou seu boicote à cerimônia do ano passado: "Como é possível que, pelo segundo ano consecutivo, os 28 aspirantes às categorias de ator e atriz (principal e coadjuvante) sejam todos brancos?".
Mulher de Will Smith, esnobado por sua performance no filme "Um Homem Entre Gigantes", Jada Pinkett-Smith causou um climão ao anunciar que também boicotaria o Oscar 2016. "Implorar reconhecimento ou inclusive pedir nos tira dignidade e poder, e nós somos um povo digno e poderoso", disparou a atriz, também em carta aberta.
Ela também mandou recado ao amigo humorista Chris Rock, que é negro, responsável pela apresentação da cerimônia de 2016: "Hey, Chris! Não estarei na premiação da Academia e nem vou assistir, mas não posso imaginar ninguém melhor para fazer este trabalho este ano que você, amigo. Boa sorte".
Após toda a polêmica, a Academia, quatro meses depois, convidou 683 nomes da indústria de Hollywood para renovar seus quadros, levando em conta, principalmente, a diversidade racial, de gênero e buscando também um rejuvenescimento dos votantes. Pela lista de indicados este ano, parece que a estratégia surtiu efeito.