Elas trabalham todos os dias da semana, o dia inteiro. O salário é bem pago em beijos e chamegos, mas as mães precisam de um pouco de descanso dessa jornada que é cuidar dos filhos. Por isso, nos Estados Unidos já existe um movimento de psicólogos que defende a momcation (a junção em inglês da palavra mom, ou mãe, com vacation, ou férias) isto é, as férias das mães.
No consultório, a psicóloga e presidente da Associação de Terapia de Família do Rio de Janeiro, Ana Cristina Bechara Barros Froés Garcia, pergunta: Qual momento você tem para você? O que você faz por você durante o dia? Quando a paciente é mulher, a resposta é o silêncio.
Os números comprovam que falta tempo. De acordo com o IBGE, as mulheres trabalham 21,3 horas por semana cuidando da casa e dos filhos — quase o dobro dos homens, que gastam 10,9 por semana nessas funções.
— Os homens conseguem muito mais facilmente se desligar. O lazer delas é com os filhos, enquanto os maridos vão sozinhos. Acho o momcationbem bacana, só é preciso sair mesmo. Pensar: eu mereço, sim, quero isso e faço valer minha vontade — afirma Ana Cristina.
Vanessa Buarque Cinci é mãe apaixonada de dois a quem se dedica integralmente. Agora, está contando os dias para sua segunda momcationde uma semana com um grupo de amigas. A primeira viagem, no ano passado, foi tão boa que fez questão de repetir a dose para comemorar seus 40 anos.
— Essa vida louca bota a gente como mãe, dona de casa, esposa,profissional e, às vezes, no meio do turbilhão, a gente esquece quem é. Acho que só conseguimos nos reconectar mesmo quando estamos com as amigas, que sempre estiveram com a gente, que nos conhecem antes de sermos casadas e mães. É com elas que você realmente relaxa e se liberta de todas as funções, se diverte e dá risada. Relaxa a cabeça, que é o principal na rotina com as crianças.
Além de todas as vantagens para a mulher, os benefícios também aparecem para o resto da família, numa oportunidade enriquecedora para a relação entre pais e filhos.
— É importante para o pai e para a criança criar um vínculo. Muitas vezes, o filho fica só com a mãe e o homem é periférico. A falta dessa conexão tem efeitos no futuro. Além disso, muitos homens não têm noção do trabalho das mães. Seria muito bom viver um dia de troca — diz Mônica.
— As próprias mães têm dificuldade de ficar longe do filho. Mas elas têm que se cuidar, não viver só em função da maternidade, porque adoecem. Quem tira uma noite ou uns dias para si, ainda ouve: "como assim? você vai ter coragem? Vai deixar com outras pessoas?" Mesmo que essa outra pessoa seja o pai. A sociedade cobra, mas a gente tem que ir dizendo que não é bem assim — destaca a psicoterapeuta.